Fiz essa foto há muitos anos em um dia de profunda tristeza quando voltei do enterro do meu Tio Mário e com o coração apertado pela triste situação da saúde do meu avô.
Cheguei em casa e me deparei com o enorme sentimento de perda e a sensação de que algumas despedidas parecem maiores do que realmente são, não pela força mas pela sutileza como se apresentam. Naquele dia ao chegar a minha casa descobri que meu tio-avô me era extremamente querido simplesmente porque existia no meu dia-a-dia. Percebi que poderia viver sem ele, mas seria um viver um pouquinho mais vazio, em especial nas visitas a minha avó sem ele por lá com o café coado e aquele jeitinho suave de ser. Consegui fazer uma única coisa ali sozinha – sentei nas pedras em volta da piscina e chorei, chorei porque me senti amparada pela Juju.
E depois de muito chorar descobri naquele olhar a certeza de que tudo ficaria bem. Fotografei a July logo depois das lágrimas e o seu olhar meio questionador, meio calmante foi a mais singela tradução do amor puro, vendido, comprado, doado, encontrado no mundo eternamente em liquidação.
Em 2010 essa sensação de amor e mundo eternamente em liquidação voltou no poema que completa este post:
Mercado de coração
Tá anunciado.
Grande liquidação!
Coração vendido em pedaço,
Almas encontradas no balcão.
Percorro os corredores perdida
Sem encontrar minha razão
E também nessa grande ilusão
Cada qual segura sua parte
E briga pela promoção.
Uns querem a arte
Outros querem o tesão.
Eu quero tudo que me liberaOu que chama minha atenção
Mas a minha grande espera
É pelo seu descontão.
Por isso me diga sem demora
Quanto vale o seu coração,
Porque eu compro agora
Se tiver nessa liquidação.
E eu lhe ofereço em pagamento
Olhar de cachorro pidão.
E também pago com sol se pondo
Ou ainda o meu jeitão
De cachorro sem dono
Atrás de você nessa liquidação.
Mariana Tavares
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