segunda-feira, 29 de agosto de 2011

TULIPAS ABERTAS


Um certo dia olhei no espelho e vi algo desconhecido até então: Uma Tulipa Aberta!
Tulipa aberta na primavera novaiorquina. Delicadeza e desconhecido.
Foto de Mariana Tavares
Eu vi uma mulher apaixonada, desejosa e principalmente envolvida por outra mulher! De repente eu me tornava lésbica. Daquele dia em diante o 29 de Agosto passava a ser um dia importante, um dia de respeito e principalmente um dia de luta! O dia de me tornar visível, o dia para dizer que existo, o dia para deixar claro que mereço direitos, mereço dignidade, mereço respeito; um dia para dizer EU MEREÇO SER VISTA COMO SOU: Uma mulher lésbica!

Alguns podem me perguntar o que isso tem a ver com Tulipas? Simples delicadeza feminina, e certeza! Tulipas só abrem quando têm certeza de que não está frio demais para congelarem, nem quente demais para esturricarem. Tulipas só se abrem quando têm certeza de que podem ser exatamente as flores que são, com sua forte fragilidade, sua delicada textura, sua sutil beleza. Tulipas são assim como mulheres lésbicas flores de intensa beleza e de bela certeza.

Ser lésbica é um direito e um caminho traçado, desses que a gente constrói a cada passo, que a gente faz a cada caminhar. Ser lésbica é a busca incessante e diária pelo direito ao Amor, à Vida, ao Corpo, ao Sonho, ao Desejo, o Direito a ter Direito. Atualmente as mulheres lésbicas representam um universo ainda desconhecido, visto como fetiche para homens ou como seres que “não conheceram o homem ideal”. Poucos se interessam em perceber a diferença que exalamos a partir do momento em que nos abrimos. Todos estão muito acostumados a nos verem por foram, poucos vêem nosso interior, nossa Tulipa Aberta.
Jardim de Tulipas em NY. Belas fechadas em si mesmas!
Foto Mariana Tavares
E para sermos lésbicas precisamos primeiramente desconstruir esses personagens inventados pela nossa sociedade machista e patriarcal. Somos mulheres em primeiro lugar, amamos mulheres e essencialmente não somos homens e nem queremos tomar-lhes nenhum papel. Sinceramente não quero e não preciso de um pênis, não quero e não preciso ser pai, não quero e não preciso assumir papéis que não são meus; mas também não quero que me sejam tirados os papéis que estou pronta para assumir e vivenciar. Sim como mulher posso ser mecânica, posso ser bombeira, posso ser a mulher de outra mulher, posso não ser mãe e com tudo isso posso ser eu mesma e ser muito feliz.

A construção de quem sou é um processo lento e gradual, mas me tornar lésbica é um momento crucial, um de repente que me deixa livre para viver e ser quem sou! Podemos crescer sabendo que somos diferentes das outras meninas, podemos nunca sentir nada por um garoto, podemos ter certeza durante toda a vida que nunca iremos casar, mas ser lésbica nasce em um momento: aquele em que aceitamso quem somos. Do momento em que aceitamos a lesbianidade somos perfeitamente capazes de nos aceitar e de viver o amor que sentimos por outra mulher, somos inteiras, completas e complexas; somos mulheres lésbicas.

E desde o primeiro minuto vivenciamos a certeza de que o caminho para nossa liberdade será diferente do caminho de todas as outras pessoas, tudo porque aprendemos desde o primeiro minuto que vencer o preconceito e a lesbofobia é vencer nossa própria história e os ensinamentos que nos foram passados. Começamos lutando para aceitar que temos o direito de amar outra mulher, depois lutamos para deixar claro aos que amamos que isso não nos torna “monstros” alheios à sociedade, isso não nos marginaliza. Continuamos nossa luta pelo direito a termos médicos que conheçam as especificidades da nossa saúde, seguimos lutando pelo direito a termos respeito e lutamos enfim para sermos vistas como pessoas com os mesmos direitos das outras: direito a licença quando casamos e à lua-de-mel, direito a passearmos de mãos dadas, direito paquerar sem sermos consideradas um bicho de sete cabeças.

E eu naquele momento me olhando no espelho descobri que sou a mulher que vai sempre lutar pelo direito a viver e ser eu mesma. Eu descobri naquele espelho a lésbica que sou. E quantas mais existem no mundo como eu?! Vamos juntas fazer da nossa Visibilidade a nossa conquista diária e o nosso Direito a sermos nós mesmas. Vamos transformar o mundo com a beleza de Tulipas Abertas!

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